A primeira ópera
Ópera. Veio do latim opus, que significa “obra”. É um gênero artístico teatral em que as encenações e diálogos acontecem de forma cantada e musicada. E quem me contou isso foi a Wikipédia.
Ok, eu confesso. Não manjo nada de ópera. Tenho um amigo querido que entende tudo, João, a quem sempre pedi encarecidamente (sim, sou dramática) para que me levasse a uma ópera e me explicasse.
Depois de mais de uma década choramingando (sem exagero!), ele atendeu meu pedido. E fiz minha estreia em uma ópera. Bem ciente, avisada inúmeras vezes ao longo de muitos anos, de que ópera e “O Fantasma da Ópera” não são a mesma coisa. Vem comigo, vou te contar como foi.
Sabe aquelas campainhas de teatro? Quando toca três vezes, é porque o espetáculo vai começar, certo? Então, na ópera é igual, só que a cortina não abre. Tem um espacinho meio subterrâneo na frente do palco onde, diz meu amigo, cabe uma orquestra inteira. E as pessoas aplaudem quando entra o maestro.
De onde estávamos – Fila F, cadeiras 11 e 12 -, nem dava para ver o buraco da orquestra, que dirá o maestro entrando. Aplaudimos num movimento multidão, seguindo os coleguinhas que aplaudiam também, torcendo para que não fosse uma pegadinha. Meu amigo abriu o programa. Eu também. Não entendi nada, fechei e coloquei na bolsa.
Aplausos findados, ouvimos o choro de uma criança. “Faz parte da ópera?” Não. Não era efeito sonoro, era real. Um pequeno espectador não curtiu os aplausos para o nada. Estava com a mãe, na fila M, cadeiras 20 e 21. O choro, ao contrário do maestro invisível, arrancou vaias.
Gente impaciente gritava “onde já se viu trazer criança em ópera” ou “sai logo, está atrapalhando” ou “que saco”. Caras feias faziam “xius” prolongados. A mãe saiu aos prantos, gritando que ninguém tem compaixão. Foram menos de 5 minutos, mas senti vergonha das pessoas execrando a pobre mãe que, na certa, só queria livrar o menino de um futuro no funk. João também me pareceu incomodado: “Bem-vinda ao mundo da ópera”.
Segue jogo. Abriram-se as cortinas, entraram os atores. Ópera brasileira. Baseada numa história do Machadão. Tinha uma pegada de novela. Global, só que sem glamour. As pessoas, de fato, falam tudo, tudinho mesmo, cantando. Esquisito. Fiquei na dúvida se o estranhamento vinha de ser uma ópera brasileira, adaptação de outra história, ou se ópera é um lance fora do comum mesmo. Pensei em perguntar para o João depois. Ou será que ofendo?
Enfim, continuando. Pra você entender a vibe de novela que aquela ópera em particular (minha primeira e única até agora) tinha, veja as semelhanças: rolou choradeira e fofoca. Muita fofoca. Teve julgamento por aparência e repetição de preconceitos + esterótipos, sem nenhum pudor.
Até cena de sexo teve. Sério. Na ópera! Cê acha que pode? Eu achei que não podia… Nada moral, só achei que não ornava com a pompa e circunstância de gente que grita com criança chorando às 17h de um domingo. Pensando bem, podia ser para segurar audiência. Vai saber!
Outra peculiaridade: a obra era em português, mas tinha legenda. Sério, legenda, tipo cinema. Tudo que era cantado aparecia num letreiro eletrônico em cima do palco. Perguntei se era comum. Meu amigo explicou que sim. “Sem isso, não dá para entender o que os caras falam.” Discordo, acho que dá. Se fosse um original em italiano, não daria. Mas quem sou eu, né? Nem entendo de ópera!
Muita traição, cantorias e clichês depois, a história termina. Machadão clássico, fim infeliz. Não fiquei exatamente impressionada. Esperava mais que o novelão. Não sei se o problema sou eu ou se foi a ópera que vimos. Meu amigo, que manja (infinitamente) mais, garante que foi aquela ópera. Eu, até aqui, sigo preferindo o Fantasma. Vamos ver. Quem sabe na próxima?