Procura-se aula prática de darwinismo

Procura-se aula prática de darwinismo

Meta de vida: virar rato-gafanhoto. Esse aí manja dos paranauê de darwinismo. Gente, a criatura toma picada de escorpião e tá se lixando. Sai na maior, como se nada houvesse.

E sabe como ele chega a isso? Rola toda uma preparação. Imagina o bebê rato-gafanhoto. Ele sai pro meio do mato, procura um escorpião e manda um: “Cola na grade, mano, não tenho medo de você.” E ainda completa: “Seu trouxa!”

Claro que, depois de ser chamado na chincha, o escorpião não vai arregar, né? Ele cai dentro, vai pra cima. Aí, rola um embate animalesco. O escorpião, feroz, ataca. Picada de escorpião dói pra um caralho, tá? Mas o rato baby continua, firme e forte.

Vida louca que é, ele provoca mais: “Sua mãe tá na zona. Ela tá pegando geral os aranhas, porque são os únicos aracnídeos que prestam. Teu pai escorpião não tá com nada. Maior ferrão frouxo.” O escorpião surta e começa a ferroar loucamente. O mamífero ousado toma várias picadas, dá uma cambaleada, mas resiste. Mordida após mordida venenosa, ele segura a onda, cansa o adversário e sai vitorioso. Ah, e, aproveitando que o escorpião cansou, o roedor depois ainda come seu oponente, porque o bicho é foda, é sinistro, melhor que seu marido, digdin.

Quando ele volta pra casa, cê acha que a mãe dele tá como? Puta porque ele brigou? Preocupada porque ele tá todo picado e fudido? Triste porque ele nem mandou Whatsapp dizendo onde estava? Nada, ela tá é orgulhosa. Na real? Foi ela que mandou o filhote pro campo encarar o escorpião. E ainda avisou: “Nem volta pra casa se não achar um escorpião pra encarar, moleque. Não te deixo passar pela porta. Pirralho.”

Bullying? Maus tratos? Não! Ratos-gafanhotos não têm bandeiras, não têm gente julgando. E a dona rata-gafanhota é a rainha do darwinismo aplicado. Sabe qualéquié? Ela tem a noção de que, depois dessa infância, não vai ter escorpião no mundo que vença o filhote de rato dela. Ele fica imune ao veneno. Darwinismo aplicado, level hard, roots total. Se o rato-gafanhoto for Nutella, morre. Simples assim. Evolução na porrada.

Mas, ó, vale a pena: os ratos-gafanhotos são estudados por cientistas por conta dessa imunidade a veneno. Os caras querem entender como que rolou de esses bichinhos evoluírem pra isso e, com eles, aprender a desenvolver tratamentos contra dor e antídotos para o veneno do escorpião.

Quem sou eu na fila do pão pra dizer pra vocês que estatuto da criança e do adolescente e nossas lutas por ambientes mais justos e fomentadores para a criançada não são importantes? É claro que são. Super acredito nisso. Mas há algo para se aprender com esse ratíneo. Mano, ele sobrevive a picadas de escorpião e ainda janta o aracnídeo. Já a gente passa a infância sendo tão protegido que não necessariamente aprende a lidar, sequer, com dissabores (mesmo que comuns).

Talvez, só talvez, a gente possa se proteger um pouco menos. Às vezes. Só de farra. Talvez, só talvez, a gente deva se permitir (ou até se propor a) tomar mais porrada de vez em quando, arriscar, cutucar onça (escorpião, rato, o bicho que for) com vara curta, pra ver se fica imune aos venenos mais simples do dia a dia. Ou o que nos resta é chorar na frente da tela do computador por conta de um findi frustrado e um coração partido. E, de repente, quando o olho desembaça, arriscar escrever uma crônica pra postar no seu blog. Mas só talvez mesmo. Vai que…

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