– Foi a Coca-Cola.
– Foi, nada.
– Foi, sim!
– O que a Coca-Cola tem a ver com o Noel?
– Tudo, ué! Antes, ele se vestia de verde e vermelho, que são as cores originais do Natal.
– Ah, são?
– Claro, todo mundo sabe.
– Aí, a Coca-Cola pegou um trenó, foi até o Polo Norte e decidiu patrocinar o bom velhinho?
– Para de ser bobo.
– Você que começou.
– Eles que começaram. Passaram a fazer anúncios do Papai Noel com as cores da marca deles: vermelho, branco e preto.
– Até aí, pode ser coisa do São Paulo, do Flamengo, do Fluminense…
– Ha-ha, sem graça. Não, foi a Coca-Cola.
– E, só por isso, você quer que eu pare de tomar refrigerante?
– Você está contribuindo com uma empresa manipuladora.
– Qual empresa não é?
– Existem empresas boas. A gente tem que pesquisar, se informar.
– Maninha, acredite, toda empresa quer vender. Assim, toda empresa tem um quê de manipuladora. É o papel deles.
– Mas Coca-Cola faz mal. Eles te fazem comprar algo que FAZ MAL!
– Putz, e o que não faz mal hoje em dia?
– Bom…
– Ovo, leite, frutas com agrotóxico. Cara, frango e carne!
– Você sempre pode comprar de pequenos produtores e de origem orgânica.
– Não tem no mercado do bairro.
– Claro, né? Quer tudo fácil?
– Quero, por que não? Todo mundo corre tanto. Como é que eu vou ficar rodando atrás de produtor pequeno?
– Dá um Google, né, caipira? Aí, já vai direto atrás.
– E esses caras anunciam?
– Óbvio! Quem é que não está na internet hoje?
– Tem muita gente.
– Até o tio da esquina, do cachorro-quente, tem site.
– Falando nisso, a senhorita come cachorro-quente, né?
– Como, sim.
– Faz mal.
– Mas é do tio da esquina! A gente conhece ele desde…
– Salsicha, produto nefasto! Feito com unha de porco! Onde já se viu?!?
– Não, a salsicha que o tio usa é…
– Cheia de corantes, como todas as outras. Que vergonha. Vai procurar salsicha orgânica!
– Será que existe?
– Ou melhor, começa a fazer em casa.
– Mas dá um trabalho…
– Pois é, fazer Coca-Cola em casa também dá. Me deixa em paz.
– Léo, eles mexeram com o Papai Noel!
– Vô, tá ouvindo essa maluca? O que o senhor acha?
– Detesto Papai Noel.
– Como assim, vô?
– Sempre pedia presente, ele nunca me trazia nada. Só porque a gente era pobre, minha mãe dizia.
– Ehhh…
– Hã… Fala alguma coisa, mana!
– Vou até o mercado, vô, quer que eu traga uma Coca-Cola?