Fim de papo

Fim de papo

– Entendeu, né?
– Está claro, somos superiores.
– Isso!
– O mundo é nosso. Mandamos e desmandamos como quisermos. Mesmo que eu não consiga coçar minhas costas.
– Pra que coçar as costas? Os pequenos se curvam a você, faça com que cocem!
– Boa! Depois, peço que palitem meus dentes também.
– Oi?
– É que eu não alcanço minha boca.
– Para com isso! Com dentes desse tamanho, até cárie foge de medo!
– Isso é verdade. Olha como são brancos.
– Para de sorrir. Vai perder o respeito, rapaz. Tem que fazer cara de mau.
– Desculpa…
– Olha, tô começando a entender por que você só domina na terra…
– Não entendi.
– Deixa para lá. Só lembre que, no lado aquático, eu mando sozinho.
– Me ensina a apavorar embaixo d’água, que nem você?
– Ih, com essas penas aí e pinta de futura galinha? Difícil. Ser o tal aqui na terra e lá na água é um talento que só eu tenho. Se já existisse rodízio, não tinha pra ninguém: sushi, churrasco, só ia dar eu!
– Cara, sou seu fã. Pena que ainda não inventaram a camiseta para eu fazer uma com a sua foto.
– Amigo, tem alguns de nós que são papa-ovo, mas é a primeira vez que eu vejo um baba-ovo…
– Ovo? Onde? Não quero sujar meu pé, não alcanço para limpar.
– Haja paciência… Você não quer aprender a nadar? Começa entrando na água para lavar o pé!
– Ai… Pra você, com esse nariz adaptado, é fácil ficar de lá pra cá. Mas eu, só chegar perto da água me dá maresiasmo.
– “Maresiasmo”? Esquece a natação, vai aprender a falar antes. Isso é uma despalavra!
– Tem certeza? Eu acho que existe. Sempre fui um bom palavrista. Queria que já tivessem criado o dicionário para eu te mostrar. Quando será que lançam o primeiro?
– Peraí que eu vou procurar uma pré-cartomante pra perguntar.
– Legal, será que ela lê minha mão?
– Se meu braço não fosse pequeno, te daria um peteleco agora. Onde já se viu? Quatro metros de altura, querendo consultar dicionário e cartomante!
– …
– Tá, não fica chateado. Esquece isso. A gente estava comemorando.
– Tá.
– Dominamos o mundo. Todas as outras criaturas nos temem, até nossos pares que só comem mato. Estamos no topo da cadeia alimentar.
– É isso aí!
– Ninguém pode com a gente.
– Não mesmo!
– Nada nos detém, não precisamos nos preocupar. Somos poderosos e vamos continuar espalhando o terror. Juntos na superfície. Da água, eu cuido sozinho.
– Obrigado.
– É pra isso que servem os amigos. E, para te mostrar que sou seu chapa, criei uma comemoração especial muito antes do que a história conta: o primeiro show de fogos de artifício em nossa homenagem, vai ser uma estrelança!
– Sério? Cara, você é demais. Cadê?
– Tá vindo. Olha ali: está vendo que brilhante?
– Eu sei que esse é o primeiro e, como nunca vi um desses, posso estar enganado, mas fogos não deviam subir para o céu ao invés de descer?
– É, não sei… Está meio perto.
– Mais perto agora. Perto demais. Esquentou ou é impressão minha?
– Relaxa, está tudo cer…

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