Costura perfeita
Ela queria simetria, era exigente assim. Se conseguia ao pregar os botões da camisa do pai, era só aplicar a mesma técnica nos olhos do gafanhoto.
Deixou para costurar os dois depois do almoço, quando a luz era melhor na saleta de trabalho. Usou a fita métrica da mãe para ajustar as posições. Foi quando percebeu que, por serem menores do que botões, olhos exigiam mais sutileza. E as asas do gafanhoto atrapalhavam um pouco, não paravam, faziam cócegas na palma da mão. Pensou em amarrá-las, mas desistiu. Melhor não. Prendeu com alfinete
Chegou a hora. Ela aceitou o desafio. Colocou os óculos e se entregou à costura. Primeiro o esquerdo. Dois pontos em cruz abaixo da pálpebra, um na parte interna do rosto e mais dois na parte inferior. Não deu o nozinho final na parte externa para garantir a simetria.
Atacou o olho direito. Dois pontos em cima, um para dentro, dois embaixo. Parou para analisar.
É, ficou simétrico. Agora, era só costurar o lado de fora, dar o nó e… voilà!
Soltou os alfinetes das asas para mostrar sua obra para a mãe. Foi então que o bicho, ingrato, saiu voando pela janela sem nem agradecer!