Preconceito, eu? Imagina…
Tinha certeza de que era burra. Olha lá: loira, alta, magra, sorrisão perfeito. Mesmo depois de 2 horas de academia, nem um fiozinho de cabelo fora do lugar. Sério, ninguém é tudo, né, gente? Ela tinha de ser burra.
Primeira facada: a nega é mestre em Antropologia pela USP. Droga, é inteligente. Versada ao menos. Sabe juntar palavras a ponto de escrever uma tese. Vá lá.
Ok, não é burra. Mas era fato: devia ser chata feito o cão. Nojo de pessoa, “não me rele, não me toque”. Só podia e… Errei de novo. Conversei com a criatura, e não é que ela é simpática? Um amorzinho mesmo. Solícita, se ofereceu para me ajudar com a criançada na saída da academia, sabe? Pareceu sincera, inclusive. Que raiva.
Arrisquei outra: é pobre. Não que isso seja um defeito, mas, assim, pra compensar aquilo tudo, tinha que ter alguma história triste de superação por trás, sabe? Para justificar esse mulherão da porra ser uma beldade inteligente e gente boa. Era um palpite certeiro.
Só que não. Stalkeei: família normal, classe média, cria de escola particular, boas notas. Tudo bem tranquilo. Monótono até.
Corna? Repelente de macho? Mal-amada? Nananinanão. Relacionamento estável com o namorado que conheceu na faculdade. Cara parceiro, apoia o doutorado que ela quer fazer e, nos fins de semana, vai com ela fazer voluntariado em orfanatos e asilos. São super felizes e tal. Ouvi de uns amigos em comum que os dois juntos são aquele casal que dá gosto de ver, te faz acreditar no amor de novo e blablablá. Manja? Eca.
Ela deve ter mau hálito, soltar pum fedido, ter barriga peluda, dois dedos a mais em cada pé. Sei lá, aí tem. Não tô sendo ruim nem nada, é só uma opinião. Na realidade, mais: são fatos. Porque, né? Só eu tenho defeito?
Preconceito, eu? Imagina! Nem recalque. Vê como você fala comigo, hein? É feio julgar os outros.