Bem-vindos a dois mil e cacetada
Será que todos sabem que estamos em 20XX? (Eu escrevi em 2019, mas não sei em que ano cê tá lendo, então, vou jogar o X de variável aí, pretensiosa, achando que lerão no futuro. Vai que.) Como pode? A gente tem algumas barbaridades que deveriam ter ficado no século passado (retrasado, nunca ter existido, enfim…). Vou listar algumas aqui, mas, ó, fica à vontade pra completar nos comentários.
Tomadas 110 e 220
Por que cargas d’água eu tenho que saber a voltagem de um aparelho? Por que existem voltagens diferentes? Por que tudo que é caseiro não é ambivolt? Cadê o user friendly? Aliás, já que estamos neste assunto, por que, senhor, temos tantos padrões de tomadas diferentes pelo mundo? Gente, sério, internet, globalização, essa coisa toda não é exatamente nova. Vamos fazer um referendo, um plebiscito, decidir por um padrão global, e vambora.
Gente que separa as cores por gênero
E, pior, acha que tudo ainda é binário. Que tudo cabe num molde de biscoito, numa caixinha. Que existe um “padrão correto”. Família só existe se for pai, mãe e, pelo menos, dois filhos – preferencialmente, um casal, sendo que o menino é o mais velho. Gente que acha que brinquedos e brincadeiras (ou profissões, ou atitudes, ou tipos de música, ou o uso de certos vocábulos) são restritos a determinada orientação sexual baseada nessa divisão binária heteronormativa (sim, eu disse “heteronormativa”. Não, não pretendo usar “empoderamento”. Mas posso mudar de ideia).
Países que respaldam a violência contra a mulher
Século XXI, e as mulheres ainda são vítimas? Sério isso? Pior: algumas vezes, de forma respaldada por cultura ou, pasmem, leis locais. Em muitos países africanos e alguns asiáticos, é comum a prática ritualística de mutilação genital da mulher. Em Dubai, um dos países que mais recebe turistas ocidentais no Oriente Médio, se a mulher reporta estupro e não pode provar, a criminosa é ela. Por fazer sexo fora do casamento. Há algumas opções de pena – dentre elas, açoitamento e apedrejamento até a morte. Detalhe: e lei vale pra turistas também, tá?
Apoio à tortura
Isso, a gente ouviu na TV nem tem muito tempo. Tortura é super aceitável para alguns, nesta época, neste momento da história. Defensores dizem que é necessária para “tirar informação de meliante”. Estudos já mostraram que, mesmo como método de extração de informação de terroristas, a tortura não é eficiente – posto que o torturado só vai te falar o que você quer ouvir. Ou seja, se nem funciona para conseguir saber algo que salvará vidas, em que situação a tortura pode ser, sequer, aceitável? Tortura contra outro ser vivo (humano ou não) há de ser mais uma síndrome de poder doentio demonstrada no Experimento da Prisão de Stanford do que método pra qualquer coisa. Se você ainda não se convenceu, a querida Mayara Abreu, blogueira e instagrammer d’O que Tem na Caixa, me recomendou o maravilhoso “Uma Noite de 12 Anos”. Vê lá. É desse século.
A crença de que sua roupa determina seu tratamento
Deveríamos acabar, de uma vez por todos, com dress code de empresas. Não é por nada, mas acho que essa prática cotidiana das “firmas” reforça a ideia de que sua roupa tem algo a ver com a mensagem que você está passando. Se o cara te atende de terno e gravata ou de chinelo e bermuda no banco, não deveria fazer diferença. O que importa: se você recebeu um atendimento prestativo, honesto, bem-informado e eficiente.
O problema dessa crença da roupa é que ela se estende a outros campos da vida: “se tá de short curto/decote/míni-saia/sem burca, quer chamar a atenção. Tava pedindo.” Pedindo o quê? Para não morrer de calor nesse país que não tem inverno?
Jejum pra fazer exame de sangue
A pior atrocidade da modernidade é mandar qualquer ser humano que vive bombardeado por comida nas redes sociais, nas internetis, nas séries e filmes, nos vídeos online e afins, de receitinhas deliciosas. Gente, não dá! Como pode vocês ainda não conseguirem examinar nossos fluidos corporais se a gente não morrer de fome? Apenas parem. Isso aí já é preguiça!
Ok, essa foi minha lista. Por ora. Conta aí, o que deixa você indignade?
2 thoughts on “Bem-vindos a dois mil e cacetada”
Aqui para complementar com algumas coisinhas, principalmente depois de menção honrosa (literal mesmo)!
Pode acabar a conversa de elevador. A gente pode conhecer nossos vizinhos em outros ambientes sociais do prédio, no hall ou indo até eles. Sou próxima da minha vizinha que tem dois cachorros porque um dia jogamos o lixo juntas. No elevador, estamos chegando ou saindo, normalmente com pressa (mesmo que seja só pressa de tirar os sapatos depois de 12 horas de expediente) e sempre com alguma coisa em mente. O “nossa, que chuva caiu” não muda nada: a gente viu a chuva também!!!!
E, como talvez seja meu meio de transporte menos favorito, o carro também tem que acabar. Muito trânsito, muito caro e muito gasto (pessoal, de grandes marcas e do governo) pra que o mundo (especificamente o Brasil) gire em torno deste transporte. Se a gente parasse com carro, as pessoas importantes iam ser obrigadas a melhorar todo o resto, mesmo que vagarosamente.
O segundo é mais utópico, MAS CHEGA DE CONVERSA DE ELEVADOR!
Acabar com o carro é uma ideia legal. E concordo: chega de falar de chuva dentro do elevador! Socorrrrro!
Linda contribuição, obrigada ❤️